Muitos acreditam que o local é assombrado e diversas histórias sinistras são contadas pelos moradores. Alguns dizem que vultos são avistados próximo ao cemitério e outros relatos contam que motoristas avistaram caboclos andando pela margem da rodovia e quando olharam pelo retrovisor nada mais havia por lá.
"Existem muitos relatos de pessoas que dizem que viram vultos nesse cemitério. É um local assombrado já famoso em Maringá", diz o historiador João Laércio Lopes Leal.
Vários acidentes com automóveis já aconteceram próximo ao local onde fica o cemitério, o que leva muitos habitantes da cidade a cogitarem que os fantasmas podem ter alguma relação com tais eventos. Seriam esses acidentes frutos da negligência na direção? Ultrapassagens forçadas e alta velocidade? Ou os motoristas também viram alguma coisa estranha na estrada?
O fim de um povo paranaense
Caboclos descendentes de índios e escravos muçulmanos, que habitaram o Norte e o Noroeste do Estado do Paraná, foram dizimados pela colonização e esquecidos pela história oficial. (Texto de Donizete Oliveira).
“Vanceis póde renegá do meu modo de caboco,/pensando qui eu seja um loco qui vive a fala de asnera/ mais eu protesto a linguage desse povo tão servage,/qui tanto e tanto martrata minha terra brasilera”. Estes versos estão no livro “Meu Brasil brasileiro, poemas caboclos”, do poeta Ary de Lima, publicado em 1975. Do livro, que denuncia a “morte” da poesia cabocla, restam poucos exemplares em sebos e bibliotecas da região.
A sina se repetiu com os caboclos que habitaram o Paraná. Os sutis, povo que vivia em comunidades espalhadas pelo Norte e Noroeste do Estado, desapareceram. Eles chegaram à região por volta de 1910 – antes dos pioneiros brancos – e permaneceram até a década de 1960. Mas a exemplo dos índios, que só agora começam a aparecer nos livros didáticos, ficaram fora da história oficial do Paraná.
A maioria desconhece a trajetória daqueles caboclos de baixa estatura, de fala mansa e pausada, descendentes de negros e índios. Que construíam casas de pau a pique cobertas com tábuas de embira, criavam porcos em mangueirões e plantavam para subsistência.
Muçulmanos
O engenheiro Marcos Luiz Wanke, membro do Instituto Histórico e Etnográfico Paranaense e pesquisador do assunto, afirma que os sutis vieram de Castro, Sul do Estado, e seriam descendentes dos malês, escravos muçulmanos que fizeram a “Revolta dos Malês” na Bahia, em 1825.
O movimento foi sufocado pelas autoridades, e a maioria dos revoltosos fugiu para outras províncias, sobretudo Rio de Janeiro. Em Castro, acrescenta Wanke, os malês fundaram a “República da Sinhara”, hoje patrimônio histórico permanente com nome de fazenda Capão Alto. Eram escravos de aluguel, portanto, decidiam sobre o próprio destino. “Os que vieram para o Paraná não participaram da revolta baiana, mas eram da mesma etnia”, explica.
Caboclo “aré”
O pesquisador diz que do Sul do Estado, os caboclos se deslocaram por trilhas e encontraram índios guaranis. O encontro teria gerado o caboclo muçulmano “aré” localmente conhecido por sutil. De acordo com Wanke, esse encontro foi documentado pelos historiadores Sebastião Paraná, Telêmaco Borba e Antonio Salomão Faris Michaele.
Os sutis extraíam sal das cinzas de uma palmeira comum na outrora mata paranaense. Eles tinham até moeda própria, o “peso hueco”, utilizada nas compras e vendas de porcos, que criavam em extensos mangueirões. Segundo Wanke, eles ajudaram a desbravar a região. Em 1779, o trecho entre os rios Ivaí, Paraná e Tibagi pertencia a Castro. Em 1872, passou a pertencer a Tibagi – de onde em 1934 desmembraram-se Londrina e outras cidades do Norte do Paraná. As trilhas utilizadas pelos sutis e índios facilitaram as idas e vindas de Norte a Sul do Estado.